O que fazer na capital do coração do Nordeste?
Post especialmente escrito pela minha quase xará, Gaby Souza. Olha ela aí:
Se cultura e história são a sua praia, pode pegar agora mesmo o primeiro avião para Recife.
E de quebra, ainda tem a Boa Viagem 🙂
Recife é uma cidade que ferve: arte, cultura, história, música, pessoas. Do Marco Zero a Olinda, tudo pode acontecer e te encantar. E se você chegar na cidade em um dia de domingo, assim como eu cheguei, o Recife Antigo é o primeiro lugar que vai te conquistar. Isso porque é o dia da semana que o centro histórico fica mais movimentado. Sabendo disso, tratei de chegar por lá cedo e comecei a desbravar o bairro a pé a partir do Paço da Alfândega: um shopping muito fofinho adaptado em um prédio onde funcionava a alfândega de Recife. Depois do café da manhã reforçado com cuscuz e leite de coco (no São Braz Coffee Shop. Maravilhoso, por sinal) dei início à rota avistando o rio Capibaribe e suas charmosas pontes (que depois atravessei inúmeras vezes a pé). Dali, caminhei para trás em direção ao Marco Zero admirando pelo caminho os casarios de nítida influência dos anos de dominação holandesa na cidade. Tudo isso misturado às artes coloridas espalhadas pelos muros das construções. Além das artes, também é muito comum esbarrar com algum grupo tocando maracatu ou simplesmente ouvir o som e ir atrás, como foi o meu caso. Eu fui me guiando pelo som que vinha de uma escadinha. Então subi no carão de pau e lá estava acontecendo uma aula, onde um rapaz muito simpático me convidou para sentar e me sentir à vontade para assistir. Naquele momento, já deu pra sentir que a vibração da minha visita em Recife seria positiva.
De lá, fui em direção a Praça do Arsenal da Marinha, onde fica o Paço do Frevo. Um espaço cultural maravilhoso todo dedicado a música e a dança locais. A entrada custa R$ 8,00 (valor da inteira) e a exposição conta as histórias, as agremiações e os personagens do frevo, fazendo um delicioso passeio pelo glossário do Carnaval que faz qualquer folião pirar de emoção. A vontade que dá no final, é a de voltar em fevereiro para conferir tudo aquilo nas ruas. Admito que isso virou o meu sonho de princesa 2018.
Saindo de lá cheguei finalmente ao Marco Zero. E o visual ali é in-crí-vel. O mar, as construções, o Centro de Artesanato de Pernambuco (onde vale ir para conferir e até comprar algum artesanato de lembrança), o Parque das Esculturas do outro lado, os Armazéns do Porto com seus bares e restaurantes (o que lembra muito Puerto Madero, lá de Buenos Aires). Tudo lindo. Momento diquinha gastronômica: durante toda a viagem, fui passear nos Armazéns algumas vezes e tive a oportunidade de ir em 3 ótimos restaurantes. O Love Japan (que rola um sushi na esteira), o Rock & Ribs (costela com batata maravilhosa) e o Seu Boteco, onde tem a maior coxinha de galinha que comi na vida. Chama coxa creme “de rodoviária” que além da massa da coxinha, ainda tem a própria coxa de galinha INTEIRA dentro dela. É praticamente uma refeição. Uma diliça! Ainda mais para os fãs de coxinha (mas quem não é, não é mesmo?)
Agora, voltando à andança, ainda aos domingos também rola na parte da tarde uma feira na rua do Bom Jesus. Eu só peguei o final da feira, mas já foi o suficiente para comprar uma pulseira linda que só acharia mesmo em Pernambuco. Tem muita coisa maravilhosa e exclusiva. A dica é: prepare o bolso. Você com certeza vai se apaixonar por algo.
Mas, Recife é muito mais que isso. Tem tanta coisa pra fazer que acho melhor mesmo é fazer uma listinha. Chega mais!
1- Visitar os museus da cidade
Quando o assunto é museu e centro cultural, Recife não decepciona. Tem muita opção e, principalmente, muita exaltação da cultura nordestina (cada passeio é uma aula!). Durante a viagem eu consegui ir em 5 espaços: Paço do Frevo (que já falei lá em cima), Cais do Sertão, Museu Homem do Nordeste, Instituto Ricardo Brennand e Oficina Francisco Brennand.
Primeiro, fui ao Cais do Sertão. Ele é novinho, tem apenas 3 anos e fica a poucos metros do Marco Zero, o que facilita bem o acesso. Sua proposta é prestar uma homenagem à cultura, às histórias, ao povo sertanejo e ao Luiz Gonzaga. O museu é todo lindo, moderno, interativo. É possível fazer uma imersão na cultura e nos costumes do sertão com uma beleza de encher os olhos. O ingresso é baratinho, custa R$10,00 a inteira e quinta-feira é o dia de visitação gratuita. O mais legal nesse museu é ver como o Nordeste tem uma identidade forte, única e como eles conseguem transmitir isso para o resto do Brasil. A gente precisa mesmo valorizar esse lugar e entender a sua importância. Ah! E ainda tem umas cabines de karaokê pra gente soltar a voz com os hits do Gonzaga. É muito amô!
Ainda na pegada antropológica e biográfica, outra opção na cidade é o Museu Homem do Nordeste. Inclusive, sua concepção museológica foi inspirada no conceito de museu regional, idealizado pelo sociólogo-antropólogo Gilberto Freyre. O museu fica no tradicional bairro de Casa Forte e custa bem baratinho, R$6,00 a inteira. O acervo permanente do espaço é dedicado a cultura negra (inclusive tem um corredor da exposição todo dedicado aos Orixás, bem bonito), indígena e Brasil Colonial, com muitos objetos das casas das famílias dos senhores de engenho. Há ainda a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre o Maracatu e entender como o cinema chegou em Pernambuco. Além da exposição permanente, vi também a exposição do J. Borges. Artista e cordelista de Pernambuco famoso por suas xilogravuras que retratam a vida do homem do sertão. Tudo uma lindeza só.
Agora cheguei na parte megalomaníaca e surpreendente da viagem, que são os espaços da família Brennand.
Primeiro, fui visitar o Instituto Ricardo Brennand. Ele fica localizado no bairro de Várzea, que é um pouco mais afastado do centro, em uma área gigantesca. Na verdade o complexo, que é em estilo medieval, é formado por 3 prédios. O “castelinho” principal é enorme e lindo demais, parece até museu europeu. Os objetos da exposição permanente são diversos, e o destaque vai para peças do período colonial e Brasil Holandês. O outro “castelinho” é todo dedicado ao acervo de armas brancas, que depois fui saber que é um dos maiores do mundo. A sensação é de estar no set de Game of Thrones, é divertido.
Há ainda muitas estátuas espalhadas pelo parque, muita arte decorativa, mobília, tapeçaria. É um passeio incrível pela história que te encanta pela beleza e pela grandiosidade. Tudo ali é muito. Fora o espaço aberto, que é todo verde, tem lago, café e um restaurante maravilhoso, o Castelus. O preço do passeio é um pouco mais salgado, R$25,00 a inteira, mas vale muito a pena.
E pra fechar a saga dos museus, cheguei ao meu preferido: a Oficina Francisco Brennand. Esse aqui eu fiquei tipo “UAAAAU”. A Oficina foi criada pelo artista plástico Francisco Brennand (irmão do Ricardo) e suas obras estão espalhadas por todo o complexo. Caminhando pelo espaço, e conhecendo as obras, a gente percebe que tem muita inspiração principalmente na mitologia, e rola também uma forte conotação sexual. Tudo é tão grandioso e espetacular que fica difícil não querer fotografar cada obra. Fora que você ainda se sente em Westeros, de Game of Thrones. O espaço também fica no bairro de Várzea e custa R$20,00 a inteira. É um passeio apaixonante e com Sol fica melhor ainda. Minha dica é: não deixa de ir nesse não, hehe.
2- Curtir Olinda de dia e de noite
Olinda pega a gente de jeito. Eu fiquei completamente apaixonada pela beleza do local, mas principalmente pela vibe. Muita cor, muita energia, muita gente simpática e amiga (fiz muitos amigos de bar), comida boa, casinhas fofas, história. De dia é possível ser bem turista, caminhar pelas ruelas, tirar muitas fotos, conhecer as igrejas e a orla, e de noite também é muito legal. Tem o Bar do Peneira, um lugar onde atrai todo tipo de boêmio. No dia que eu fui tinha gringo, tinha uma dupla de senhores fofos que são os mestres do Frevo no Carnaval, tinha cineasta local famoso, tinha um casal local e donos de restaurante (que fomos conferir depois) muito simpáticos e tinha a gente, maravilhadas com aquele clima único. De lá seguimos para o Bar da Dacy na companhia dos “novos amigos” feitos ali no Peneira. E descobri que a Dacy é tipo patrimônio cultural da cidade. Ela é uma senhorinha muito fofa que sai da casa dela para abrir o bar bem tarde e fica até o final se divertindo com todo mundo. Além do Bar do Peneira e da Dacy, minha dica é conhecer a Bodega de Véio, a Venda do Seu Biu e o forró do Xinxim da Baiana. Mas a dica máxima é: permita-se viver a loucura de Olinda. Tem tudo para ser o ponto alto da sua viagem.
3- Visitar os Mercados da cidade
O Mercado São José foi o primeiro que visitei. Ele é o mercado tradicional da cidade e fica pertinho do Recife Antigo, numa área bem central. São vários corredores de artesanatos e comidas típicas pra gente se perder e, claro, comprar. Outro mercado bacaninha que fui também é o Mercado da Boa Vista. Esse é menorzinho, mais aconchegante e é mais pra sentar, comer e bater papo. Eu fui cedo então fiquei no pastel com cerveja, mas tem também restaurante para almoço. Dizem que rola música, mas eu não cheguei a ver no dia.
4- Curtir um forrozin
Numa quarta-feira despretensiosa, fui conferir o forró do Sexto Andar. O Sexto Andar na verdade é um coletivo que funciona no sim, sexto andar, do Edifício Pernambuco, um tradicional edifício de Recife que fica no bairro Santo Antônio. E em cada andar do prédio funciona um coletivo criativo, como ateliês e espaços de coworking. Você percebe de cara que é um lugar que fervilha ideias e que atrai artistas de todas as áreas. Eu achei bem massa. Além disso, o grupo que tocou forró era maravilhoso e tudo estava bem organizado no evento. Tinha bar com comidinhas, bebidinhas, tinha lojinha de bijus e roupas, tinha gente estilosa e divertida. Vale muito a pena ir pra arrastar o pé como um legítimo recifense, e para sentir um pouco como a galera que produz arte e cultura está se movimentando por lá.
5- Comer um bolo Souza Leão
Foi em Olinda que acabei experimentando essa iguaria. Já tinha visto por lugares de Recife, mas foi em um ateliê de Olinda que o dono, muito simpático e falador, nos ofereceu o famoso bolo e de quebra já foi contando a história com aquele sotaque delicioso: “sabia que esse bolo já foi servido ao Dom Pedro II quando ele esteve aqui em Pernambuco?”. O bolo é um dos mais antigos doces do país e recebeu o título de Patrimônio Cultural e Imaterial do estado de Pernambuco (tá, kirida?). Não é pouca coisa não! E a receita é super simples: massa de mandioca, leite de coco, açúcar, manteiga e ovos. Fora o principal, né gente! Ele é uma delícia e vai super bem com um café quentinho no final da tarde.
6- Tomar uma cervejinha no Bar Central
Antes de ir para Recife alguns amigos já tinham me indicado esse lugar. O Bar Central fica no bairro de Santo Amaro em uma rua que tem um monte de bar um do lado do outro. O local então é bem boêmio e descontraído, atraindo muita gente descolada: estudantes da região, artistas e intelectuais da cidade. Mas o que mais me chamou atenção, e principalmente da minha amiga vegetariana, foi que eles têm um cardápio extenso e exclusivo só para os vegetarianos. E isso é uma coisa bem rara ainda mais em um bar. Coisa de primeiro mundo mesmo. Pedimos então uma porção de falafel para acompanhar a cerveja gelada e o papo furado. Pra quem gosta de cachaça o cardápio também é ótimo.
7- Conferir o verdadeiro prédio do filme Aquarius
O cinema pernambucano é um dos principais representantes da cultura do estado e vale muito ser visto e enaltecido. Eu sou fã e tento acompanhar tudo que vem de lá e foi por isso que reconheci o prédio ao passar de carro pela praia do Pina. Para quem é fã do filme do Kléber Mendonça, ele é de fato bem reconhecível. Além de ser muito charmoso, é mesmo o único de dois andares no quarteirão (resistência!). Seu nome verdadeiro é “Oceania” e fica lá no final da praia. E o que euzinha aqui fiz? Isso mesmo. Fui lá na calçada só pra tirar uma fotinho e me sentir a Clara, personagem porreta da poderosa Sônia Braga.
8- Visitar o shopping RioMar
Visitar shopping em Recife? Tá louca? Pois é. Foi num dia de chuva sem parar que fui obrigada a fazer isso e quer saber? Que shopping! Além de ser enooorme, ele é bem bonito e tem todas as lojas que você pode imaginar. De Renner a Prada. Fui saber depois que ele é o maior empreendimento comercial do Nordeste e o 5º maior do país, só perdendo para shoppings de São Paulo. Resultado? Bati muita perna, gastei uns dinheiros com roupas e sapato, comi bem e me surpreendi com a megalomania recifense. Vale a pena a passadinha.
9- Visitar o Parque das Esculturas
Esse parque fica em cima de um recife que dá pra ver do Marco Zero, e foi construído em 2000 como marco comemorativo dos 500 anos de Descobrimento do Brasil. Para chegar nele, tem que pegar um barquinho no pier que custa R$ 5,00 só. A travessia é bem rapidinha, mas o visual é lindo. E chegando no parque, fica mais maravilhoso ainda. Lá você se depara 90 esculturas do – de novo -, Francisco Brennand, sendo a principal a Coluna de Cristal, com 32 metros de altura. Além das obras, também dá pra apreciar as ondas do mar batendo no recife e a cidade lá do outro lado. Passeio delícia pra curtir a tardinha e tirar altas fotos.
10- Comer crepes no Anjo Solto da Galeria Joana D’Arc
Posso dizer que essa foi uma das melhores experiências gastronômicas que tive na cidade. Os crepes desse lugar são surreais, chega a manteiga derrete de tão bom. O restaurante fica dentro da Galeria Joana D’arc, um lugar considerado alternativo por ter várias lojinhas diferentes. Eu, particularmente, curti a vibe. E o Anjo Solto foi uma deliciosa descoberta. Não sabia até então que a creperia é considerada a melhor de Recife, eu só andei até o final da galeria, achei o lugar bonito, aconchegante e entrei. Mal sabia também que o carro-chefe do restaurante era crepe e aí, quando peguei o cardápio, me surpreendi com mais de 100 opções de crepes (o que dificulta bastante na hora de escolher). Os crepes estão divididos em categorias: light, básicos, especiais, gourmet, vegetarianos, doces e até para celíacos (!!!). Mas, gente, como nomeia tanto crepe? Essa parte é engraçada. Os crepes possuem nome e sobrenome de recifenses e quem frequenta a casa já tem o seu favorito. Eu não lembro os nomes dos meus. Mas pedi um salgado e um doce que ainda vinha com sorvete. O Anjo Solto fica no Pina, a média de preço é R$ 40,00 o crepe. Um pouco salgadinho, mas vale demais. Come-se tão bem que o coração fica até quentinho.
Meus 9 dias de Recife foram agitados e ao mesmo tempo, bem atípicos por conta do clima. Choveu todo dia, fez até frio. Por isso, mal andei no calçadão da Boa Viagem e perdi um dia que planejei visitar Porto de Galinhas. Acho que praia não era mesmo a vibe dessa viagem. O que eu achei ótimo, até. O acaso foi quem construiu esse roteiro, que acabou me mostrando uma Recife diferente, crua, efervescente, histórica, cultural, urbana, mágica. Se eu faria tudo de novo? Sim. Agorinha mesmo. Assim que se chega no aeroporto a gente vê um letreiro enorme onde está escrito: Recife Coração do Nordeste. E olha, é, viu? É muito amor. Recife tá aqui, guardadinha no meu coração.