Quando Eva Klabin ainda era adolescente, ela começou uma coleção. De sapatos? De bolsas? De namorados? Não, gente. De obras de arte. Suas primeiras peças foram duas pequenas telas do pintor holandês Glauber e daí pra frente ela não parou mais. O acervo cresceu tanto que chegou a mais de 2mil itens, pensa só.
Ela nasceu em 1903 em uma família de imigrantes lituanos que chegaram a São Paulo no começo do século XX e fundaram as indústrias Klabin de papel e celulose. Como os negócios iam de vento em popa, Eva pode estudar na Suíça, na Alemanha e em NY, e teve a chance de refinar sua paixão pela arte.
Em 1933, ela se casou com o advogado e jornalista Paulo Rapaport e foi de mala e cuia para o Rio de Janeiro. Eles compraram uma casa, em 1952, na recém urbanizada Lagoa Rodrigo de Freitas e Eva foi aos poucos ocupando cada cômodo com peças da sua coleção, que sempre acabavam virando assunto nos jantares e reuniões que o casal oferecia em casa. Tudo ia bem na vida da nossa amiga, até que o Paulo faleceu e Eva passou um tempo bem triste, quietinha superando seu luto.
Mas depois que essa fase acabou, ela que já gostava de festa, resolveu que ia aproveitar a vida com tudo o que ela tinha direito e principalmente com o que ela não tinha, porque no fim dos anos 50 mulher não tinha direito a muita coisa não, viu? Mas ela não tava nem aí pro que diziam. Eva tinha amigos boêmios e artistas e resolveu transformar sua casa num QG pra turma. Ela oferecia jantares que começavam depois da meia noite e chegou a receber Jucelino Kubitschek e até David Rockfeller em suas festinhas. Os arranjos de flores que decoravam os ambientes eram cortesias criadas com exclusividade pra ela pelo amigo Burle Marx. Fina ou não?
Além de ter uma vida social super hiper intensa, Eva Klabin que sempre gostou de passear mundo a fora, se tornou uma viajadeira de marca maior e rodou o globo atrás de peças pra ampliar sua coleção de arte. Ela frequentava leilões e saída procurando antiquários pelos quatro cantos desse planeta.
Presta atenção em alguns dos lugares pelos quais ela passou/frequentou procurando arte e me diz se não é de dar inveja:
E como esse negócio de viajar vicia, ela também fez um cruzeiro de volta ao mundo no famoso navio Queen Elizabeth II. Aliás ela adorava um navio. Teve até uma exposição chamada Viagens de Eva em 2012 (e bem que poderia ter uma reedição porque eu perdi) que mostrava todas as lembranças dos cruzeiros que ela já fez.
Com tantos destinos tão inspiradores pra quem gosta de arte, não é de se estranhar que a coleção de Eva tivesse crescido tanto. Pra abrir espaço pra todas as mais de duas mil peças que vão de objetos decorativos bem pequenos até móveis e telas enormes, ela teve que reformar a casa. Foram sete anos de reforma até que tudo ficasse como ela queria.
Ao longo do tempo, Eva foi nutrindo a vontade de compartilhar a sua paixão com mais e mais gente e decidiu que abriria sua casa para o público. Em 1990, ela realizou seu sonho e inaugurou a Fundação Eva Klabin – FEK – e seu lar-artístico-lar se tornou uma das mais ricas heranças já deixadas pra cidade do Rio de Janeiro.
Aliás, se você estiver passeando pelo Rio e for dar uma volta na Lagoa, repare numa casa antiga de esquina que resistiu entre os prédios, perto do Corte do Cantagalo. Nem dá pra imaginar que lá dentro tem um panorama da arte do mundo inteiro, de várias culturas, do Egito Antigo ao século 19. Se eu fosse você, tiraria uma tarde pra fazer uma visita, apreciar a coleção e aproveitar a programação cultural da fundação, que é bem legal.
A casa-museu é tão cheia da personalidade da dona que, se você for bom de imaginação, dá até pra ver a Eva sentada na sua poltrona preferida, ouvindo um sonzinho, tomando seu whiskey e pensando na vida. Então passa lá porque, graças a ela, as portas estão sempre abertas. Sempre não, né? De terça a domingo, das 14h às 18h.
Ah! Se você gosta de arte contemporânea, é bom ficar de olho no Projeto Respiração, que tem curadoria do Márcio Doctors e convida artistas pra fazerem intervenções na casa da Eva, formando uma ponte entre a arte clássica da coleção e as manifestações artísticas de hoje.
É isso. Espero que você tenha gostado de conhecer a Eva tanto quanto eu gostei.
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Postado por Gabriela Alvarenga