Meus últimos dias tinham sido estranhos. Eu acordava com o coração apertado e ia dormir com a certeza de que a vida andava muito corrida e pouco vivida. É uma aflição que a minha alma viajante conhece bem. Mas dessa vez veio mais forte, mais persistente.
Foi quando eu soube que os girassóis tinham brotado. Eles estavam lá, na beira da estrada, esperando.
Girassóis são bem comuns nesta época por aqui. É como se eles soubessem que o amarelo intenso combina direitinho com o céu azul que só fica assim tão azul no outono.
Há anos, eu marco um encontro com eles. Há anos eu furo. “No próximo fim de semana eu vou.” E quando o fim de semana chegava eu deixava pro próximo e pro próximo, até me ver obrigada a deixar, quem sabe, pra uma próxima oportunidade.
Campos de girassol não são perenes. Os donos das lavouras não ligam se você tem compromisso, se tá passando por ali com pressa, se tá cansado demais pra sair do sofá, se não tem ninguém pra ir com você. Quando chega a hora, eles colhem cada uma das flores e aquela imensidão amarela desaparece de vista pra virar mais um item na lista de resoluções de ano novo.
Mas não pra mim. Não dessa vez. Não nesse domingo. Acordei cedo pensando neles e, antes que eu me desse conta, minha manhã se esgotou em uma série de motivos pra não ir. Mas eu fui. Dei meu jeito, dei sorte de arrumar boa companhia e fui. E, mesmo que completamente sozinha, eu teria ido. Eu me devia essa visita.
Cê já pensou nisso?
Cadê aquela vontade que você vive adiando porque parece bobagem, porque é pequena demais pra valer o esforço, por falta de tempo, de validação dos outros, por medo ou por preguiça mesmo?
Na estrada, tudo isso passou pela minha cabeça, mas metade do caminho eu já estava rindo de orelha a orelha e assim que chegamos eu entendi o motivo.
Girassóis me conectam com o meu lado mais leve e otimista, me levam pro lugar onde mora o meu bom-humor, me lembram de buscar a luz e não perdê-la de vista. É a versão de mim que eu mais gosto: a que acompanha o sol e descansa tranquila quando a noite chega.
Sabe aquela agoniazinha que aperta o peito no fim do domingo? Nesse domingo não teve. Teve um sentimento de alegria que só acontece quando o coração manda e a gente obedece. Teve sorriso rasgado que vem de brinde em cada pequeno sonho que a gente realiza. No meio de tantos girassóis, fui eu que floresci. 🌻