Decepção e Paris são duas palavras que parecem não caber na mesma frase, né?
Mas se você está planejando visitar a cidade luz pela primeira vez na vida, é bom saber: Paris é simplesmente incrível, mas não é perfeita. E, convenhamos, toda grande cidade desse planeta tem seus problemas. Cidade turística em alta temporada então, nem se fala.
Pra você ter uma ideia, existe até um distúrbio psicológico chamado Síndrome de Paris, que acontece princialmente com turistas japoneses. É que no Japão, a capital francesa é tão idealizada, mas tão idealizada que o povo surta de verdade com o choque de realidade quando chega lá.
Eu acho bem difícil esse tipo de crise acontecer com você e acho também que é bem difícil alguém voltar de Paris falando mais mal do que bem. Mas, só por precaução, dá uma lida aqui antes de ir.
O metrô de Paris é um dos mais eficientes do mundo, sem dúvida, e te leva pra praticamente qualquer canto da cidade. Mas é sujo, fedido de xixi, com paredes que nunca na vida viram água e sabão. De brinde, à noite ainda tem uma turma meio mal encarada. Se você for pra lá no esquema mais baixo-custo como eu fui, provavelmente vai pegar o trem no aeroporto e depois o metrô pra chegar até sua hospedagem. Então se prepara, porque muitas das estações têm escadas enormes que não são rolantes. Rampa eu não vi. Elevador muito menos. Aí você olha pra sua mala de 400kg, senta no chão sujo e chora. Quer mais? Alguns dos trens devem ter uns 789 anos de idade e, em vez de portas automáticas, têm uma travinha manual, tipo uma maçaneta estranha. Se você ficar parado sem fazer nada, a porta não abre e a sua estação fica pra trás.
Eu decidi conhecer Paris de última hora, entre o Natal o Ano novo, que é altíssima temporada (se é que lá realmente existe a baixa). Por causa disso, tive que me contentar com o hotel mais apresentável com vaga disponível. Pelo preço da diária, eu esperava algo pelo menos ajeitadinho. Mas o esquema era carpete mofado, elevador que só cabia meia pessoa por vez e um banheiro micro com o chuveiro solto que girava, além da cortina de plástico que insistia grudar na minha bunda. Olha que luxo! Depois dessa experiência engrandecedora, fiquei sabendo que isso não é tão incomum por lá. O valor médio da diária parisiense é U$ 187 e todo mundo quer ir pra Paris o tempo todo. Então pensa: pra que o dono de um hotel sem estrelas vai se preocupar com reformas se sempre tem uma fila hóspedes que topam pagar caro pelo que ele tem a oferecer? Nesse que eu fiquei, pelo menos o pessoal era gentil. Mas se você quiser uma boa dica de lugar pra ficar, tem o Plug-inn Hostel que tem quartos comunitários e também suítes privativas muito ajeitas, com preço bem parecido com as de hotelzinho mofado.
Vem ouvir esse contúdo em versão podcast:
Sobre isso já tinham me avisado, ou melhor, me assustado. Segundo os relatos que eu ouvi, passar a virada do ano na avenida mais elegante do mundo pode ser um fiasco sem precedentes no seu histórico de viajante. É programa furado nível hard e inclui frio de doer, bandos enormes de gente sem noção e um povo que acha legal atear fogo nos carros parados por ali. Ah! Não tem fogos na Torre Eiffel, tá? Nem show, nem nada especial. É melhor passar a virada bem longe de lá, num restaurante legal ou uma casa noturna. Eu passei num pub em Montmartre e foi bem divertido. Esqueci o nome, mas vou tentar achar. É saindo da estação Blache do metrô, quase do lado no Moulin Rouge. E, falando nele, olha aí embaixo.
Sabe aquela imagem grandiosa que ficou na sua cabeça depois de ver o filme da Nicole Kidman, se é que você viu? Pode esquecer. O Moulin Rouge é bonitinho, mas é inho mesmo. Vai no Google Street View e compara com o tamanho dos prédios em volta. Pra você ter uma ideia, em Uberlândia-MG tem um restaurante com um moinho que se pintar de vermelho fica igual, rs. Tá bom, nem tanto. Mas é pequeno e não impressiona. Quando eu vi pensei: “Hein? É isso?”.
Quer conhecer o Louvre, o Pompidou, a Notre Dame, o Musee d’Orsay? Faz muita, mas muita questão de subir na Torre? Vá mesmo porque é bom demais. Mas leve um livro, um carregador de bateria pro seu celular, água, um lanchinho e esteja pronto para ficar em pé por horas na fila. Isso mesmo, horas. E, olha, o frio não espanta as pessoas, nem a chuva e o calor muito menos. Pra evitar morrer de tédio, vale comprar e-tickets que facilitam o acesso às atrações. Dá uma olhada aqui pra comprar ingressos pros museus e aqui pro ingresso corta-fila da Torre Eiffel. São dicas do Conexão Paris.
Mas quer saber?
E agora que você já sabe dos defeitos é só sair daqui com o pé no chão e deixar a cidade te deslumbrar. Pode apostar que isso vai acontecer.
Beijo e boa viagem.
Ah! Aqui no blog tem mais posts parisienses. Olha só:
A produção Emily em Paris da Netflix é um dos muitos conteúdos que colaboram e com a visão idealizada que causa essa “Expectativa x Realidade” sobre Paris. Os episódios são divertidíssimos e têm cenas lindas dos pontos turísticos da Cidade Luz, mas não são um retrato realista de Paris e os parisienses. Para os viajantes que querem ter a ideia de uma Paris mais pé no chão, eu indico o filme Paris Je t’aime. Saibda mais sobre ele e outros filmes que retratam Paris aqui: Paris em 5 filmes.